É impressionante como um texto lido e
relido nos livros de Comunicação e Expressão que ajudaram na minha
formação durante o antigo primário se encontra tão presente e,
especialmente uma frase se aplica a quase tudo na minha maneira de
perceber o mundo. Parafraseando o grande Érico Veríssimo em sua
obra “Olhai os Lírios do Campo”, quando Eugênio escreve para
Olívia que tem penssado na fúria cega com que o homem se atira à
caçado dinheiro, eu fico a matutar o quão cego e furioso é o
homem. Só não sei definir se ele [o homem], assim como percebeu o
escritor gaúcho, possui uma fúria cega para perseguir as coisas que
deseja ou se, de natureza, já é um cego furioso.
Vejo sempre que o homem se atira
cegamente à caça do que deseja. O contexto nunca é considerado.
Tal fato pode ser constatado na forma em que se editam leis, sempre
no calor de algum fato de repercursão, seja este fato utilizado para
justificar a lei ou para desviar a atenção pública dela. A busca
cega pela justiça, gera sempre uma imensa injustiça, pois apenas
uma vertente será beneficiada com a justiça descontemporizada.
A novidade agora é a fúria cega com
que o homem se atira à caça da verdade. Foi até formada uma
comissão de “notáveis saberes sobre a verdade” para a apuração
definitiva do que ocorreu durante um período consederado negro ne
nossa história recente.
O mais difícil de entender para
qualquer pessoa com um mínino de discernimento lógico é como se
apura a verdade se a verdade não existe.
A verdade sempre será relativa e
destinada a atender aos interesses da elite. É a elite dominante, os
vencedores da guerra, o príncipe maquiavélico, que determinam a
verdade.
Desde os primórdios do conhecimento
humano se perquire a verdade e até hoje ninguém conseguiu
defini-la. Quem sabe a nossa comissão da verdade tupiniquim não vai
atingir o grande feito?
Antes de se querer definir qual a
vedade do período ditatorial brasileiro, importa uma análise
contextualizada do momento histórico pelo qual nossa nação passava
no limiar da década de 1960. O Golpe Militar não foi nem de longe
uma traição ao povo brasileiro, mas sim uma necessidade, assim
considerada pela população da época. A saber, a revolução de
1964 foi legitimada e comemorada pelo povo, devido, como já dito, ao
momento histórico vigente. Nenhum militar se imitiu no poder sem o
aval da população. Fato que se deu também no Chile, na Argentina e
em Cuba.
A resistência de parte da população
e a formação de uma guerrilha gerou conflitos típicos de uma
guerra civil, com as famigeradas torturas e o uso de truculência
desmedida pelo lado que detinha a força institucionalizada (há que
se considerar, ainda, que deu origem a uma geração de
presidenciáveis, cujo fato de terem sido perseguidos políticos lhes
conferia credibilidade e competência administrativa. Alguém me
explica isso?).
Duas décadas de conflitos sangrentos
e naturais para a situação. Qualquer um menos alienado sabe
perfeitamente que a vioência não foi unilateral. Ambos os lados
usaram de métodos criminosos para atingir seus objetivos. Ou posso
considerar que sequestro e tortura de homens influentes no cenário
político mundial é menos reprovável do que a tortura praticada
contra os militantes de esquerda? Posso considerar ainda louváveis
os métodos cruéis de guerrilha utilizados por Carlos Lamarca para
defender os interesses da resistência ao regime militar?
Qual das verdades a comisão vai
apurar? A verdade legitimada durante o período ditatorial, ou seja,
a validade das ações dos militares; a verdade arrefecida no período
pós anistia, ou seja, o perdão de todos os atos criminosos
cometidos por ambas as partes; a verdade legitimada pelo poder atual,
ou seja, a validade das ações contra militares?
Justificativas se vão encontrar para
todas as verdades, basta apenas considerar quem está contando o
história e a qual interesse a verdade atende. Até a verdade sobre o
holocausto seria outra se outro fosse o desfecho da II Guerra.
A elite do poder estabelece a verdade,
qualquer apuração é viciada pela distância histórica entre o
tempo dos fatos e o tempo da apuração dos fatos. Os valores mudam
de acordo com o contexto político-social.
Por tudo isso e por muito mais que o
meu conhecimento não alcança, a verdade não existe, ela é apenas
um instrumento ideal de legitimação do poder, seja ele qual for e
desta vez não será diferente. A verdade da nossa ilustríssima
comissão surgirá sem dúvida, de modo a corroborar com os
interesses do poder estabelecido, travestido de Antígona, que clama
por um direito acima do direito. O direito inarradável de sepultar
seu cadáveres.
Mas a Antígona também clamará pelo
direito de sepultar os cadáveres produzidos pela resitência?
Bem... Voltando a Érico Veríssimo,
tenho pensado na fúria cega com que os homens se atiram à caça do
dinheiro, o qual será bem vindo por meio de indenizações e pensões
vitalícias, as quais nem Antígona havia cogitado.