terça-feira, 22 de maio de 2012

A Comissão das Meias Verdades


 É impressionante como um texto lido e relido nos livros de Comunicação e Expressão que ajudaram na minha formação durante o antigo primário se encontra tão presente e, especialmente uma frase se aplica a quase tudo na minha maneira de perceber o mundo. Parafraseando o grande Érico Veríssimo em sua obra “Olhai os Lírios do Campo”, quando Eugênio escreve para Olívia que tem penssado na fúria cega com que o homem se atira à caçado dinheiro, eu fico a matutar o quão cego e furioso é o homem. Só não sei definir se ele [o homem], assim como percebeu o escritor gaúcho, possui uma fúria cega para perseguir as coisas que deseja ou se, de natureza, já é um cego furioso.
Vejo sempre que o homem se atira cegamente à caça do que deseja. O contexto nunca é considerado. Tal fato pode ser constatado na forma em que se editam leis, sempre no calor de algum fato de repercursão, seja este fato utilizado para justificar a lei ou para desviar a atenção pública dela. A busca cega pela justiça, gera sempre uma imensa injustiça, pois apenas uma vertente será beneficiada com a justiça descontemporizada.
A novidade agora é a fúria cega com que o homem se atira à caça da verdade. Foi até formada uma comissão de “notáveis saberes sobre a verdade” para a apuração definitiva do que ocorreu durante um período consederado negro ne nossa história recente.
O mais difícil de entender para qualquer pessoa com um mínino de discernimento lógico é como se apura a verdade se a verdade não existe.
A verdade sempre será relativa e destinada a atender aos interesses da elite. É a elite dominante, os vencedores da guerra, o príncipe maquiavélico, que determinam a verdade.
Desde os primórdios do conhecimento humano se perquire a verdade e até hoje ninguém conseguiu defini-la. Quem sabe a nossa comissão da verdade tupiniquim não vai atingir o grande feito?
Antes de se querer definir qual a vedade do período ditatorial brasileiro, importa uma análise contextualizada do momento histórico pelo qual nossa nação passava no limiar da década de 1960. O Golpe Militar não foi nem de longe uma traição ao povo brasileiro, mas sim uma necessidade, assim considerada pela população da época. A saber, a revolução de 1964 foi legitimada e comemorada pelo povo, devido, como já dito, ao momento histórico vigente. Nenhum militar se imitiu no poder sem o aval da população. Fato que se deu também no Chile, na Argentina e em Cuba.
A resistência de parte da população e a formação de uma guerrilha gerou conflitos típicos de uma guerra civil, com as famigeradas torturas e o uso de truculência desmedida pelo lado que detinha a força institucionalizada (há que se considerar, ainda, que deu origem a uma geração de presidenciáveis, cujo fato de terem sido perseguidos políticos lhes conferia credibilidade e competência administrativa. Alguém me explica isso?).
Duas décadas de conflitos sangrentos e naturais para a situação. Qualquer um menos alienado sabe perfeitamente que a vioência não foi unilateral. Ambos os lados usaram de métodos criminosos para atingir seus objetivos. Ou posso considerar que sequestro e tortura de homens influentes no cenário político mundial é menos reprovável do que a tortura praticada contra os militantes de esquerda? Posso considerar ainda louváveis os métodos cruéis de guerrilha utilizados por Carlos Lamarca para defender os interesses da resistência ao regime militar?
Qual das verdades a comisão vai apurar? A verdade legitimada durante o período ditatorial, ou seja, a validade das ações dos militares; a verdade arrefecida no período pós anistia, ou seja, o perdão de todos os atos criminosos cometidos por ambas as partes; a verdade legitimada pelo poder atual, ou seja, a validade das ações contra militares?
Justificativas se vão encontrar para todas as verdades, basta apenas considerar quem está contando o história e a qual interesse a verdade atende. Até a verdade sobre o holocausto seria outra se outro fosse o desfecho da II Guerra.
A elite do poder estabelece a verdade, qualquer apuração é viciada pela distância histórica entre o tempo dos fatos e o tempo da apuração dos fatos. Os valores mudam de acordo com o contexto político-social.
Por tudo isso e por muito mais que o meu conhecimento não alcança, a verdade não existe, ela é apenas um instrumento ideal de legitimação do poder, seja ele qual for e desta vez não será diferente. A verdade da nossa ilustríssima comissão surgirá sem dúvida, de modo a corroborar com os interesses do poder estabelecido, travestido de Antígona, que clama por um direito acima do direito. O direito inarradável de sepultar seu cadáveres.
Mas a Antígona também clamará pelo direito de sepultar os cadáveres produzidos pela resitência?
Bem... Voltando a Érico Veríssimo, tenho pensado na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro, o qual será bem vindo por meio de indenizações e pensões vitalícias, as quais nem Antígona havia cogitado.